
Sempre achei que os professores eram as pessoas mais inteligentes e educadas do mundo, que eram capazes de falar sobre qualquer assunto, entender qualquer coisa e qualquer pessoa. Sempre observei o fato de a maior parte das professoras que tive não serem casadas, e pensava: Ela é um ser admirável, preferiu dedicar-se aos estudos, exercitar sua inteligência e tornar-se uma "pessoa importante" (Apesar de ter sido educada para achar que uma mulher deve se casar e que as donas de casa são também, muito importantes). Esse era o pensamento de uma adolescente que não pensava direito??? Por que eu pensava assim? Por que todos os professores eram muito bons? claro que não. Alguns eram bons. Nem todos eram o exemplo que eu queria seguir. Talvez eu pensasse assim por que sempre tive o dom de extrair o melhor das pessoas. E também por que sempre soube que o magistério (depois da medicina) é a profissão mais importante do mundo. Age diretamente na formação do ser humano, por isso é muito importante. Isso não se pode negar.
Seja como for, reconheço que se eu não tivesse passado por eles, hoje eu não saberia ler nem escrever. A professora do primário (hoje ensino fundamental) proporcionou momentos fantásticos com a leitura de Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e outros escritores infantis que continuo achando fantásticos. Os professores da faculdade, verdadeiros mestres e doutores do ensino e da arte de fazer-nos buscar o conhecimento.
Contudo, essas reflexões são para expressar minha decepção. Não pelo fato de agora saber que não existe uma classe mais inteligente do que outra. Isso é louvável. Mas pelo fato de agora saber que nem todos os educadores são pessoas educadas, nem são capazes de entender ou falar sobre qualquer assunto ou pessoa de forma verdadeiramente analítica. E têm suas opiniões de acordo com o que estão sentindo e não de acordo com o que é de fato. Desculpem se pareço rude ou sem postura, tanto quanto essas pessoas de quem eu me lembro.
Para quem acha que é exagero, contarei um pouco da trajetória que me levou a ter essa opinião. Antes quero falar da minha formação. No ano de 2005, Formei-me em Letras pela Fafijan (faculdade de filosofia, ciências e letras de jandaia do sul PR). Em 2006 segui fazendo pós graduação nessa mesma instituição, onde aproveitei ao máximo e aprendi bastante. Tive professores ótimos, gostaria de citar alguns: Silvia Helena Mori Farias de Moraes Basílio, o nome dela parece uma oração subordinada substantiva hehe, todavia, ela é fantástica. Leciona no instituto de línguas na UEM e também na Fafijan. Ela é um exemplo de ser humano e profissional a ser seguido. João Bento Goes, ( psicologia da educação) aposentado pela UEM e ótimo professor da FAFIJAN. Neil e Margarida, (Português e literatura brasileira) CESUMAR e FAFIJAN, ótimos professores. Rosi Campos, orientou-me com carinho no meu artigo sobre a poesia no livro didático. É uma pessoa muito competente. Alex e Eliete (Literatura brasileira e Produção de texto) muito bons. Neusa Ciciliato (UEL) e Juliano desiderato (UEM) Renilson Menegassi (UEM). Me desculpem se não menciono todos os outros tão bons quanto esses que encontrei na graduação e pós-graduação. Mencionei alguns apenas por causa daqueles que valorizam somente quem formou-se em Universidades públicas. A esses quero dizer: Os mestres foram os mesmos. E eles não ensinaram menos por que estavam numa instituição privada. Nunca tive a opinião de que a instituição faz a pessoa. Formei-me em uma faculdade particular e se eu quiser posso ser melhor do que alguém que formou-se em uma pública, basta apenas eu querer. Desafie, e qualquer um pode provar isso a você. Não digo isso por presunção, mas por que realmente acredito. Não subestimo ninguém.
Enquanto fazia especialização na Fafijan, fiz prova para entrar como aluno irregular de mestrado na UEM e consegui entrar na disciplina de gramática funcional. Ao mesmo tempo ofereceram-me trinta e uma aulas em um colégio próximo a minha casa e aceitei. Eu fazia também curso de Inglês na Fisk. Minha vida de repente tornou-se um tumulto. Recém-formada, com todos esses compromissos. E além disso sou esposa, dona de casa e mãe.
Logo que me inseri no meio dessa classe de profissionais, veio a decepção. Nem todos falavam a mesma língua, nem todos queriam isso. Falavam mal uns dos outros, como se fossem inimigos. Alguns deles ouviam atrás das portas e comentavam com outras pessoas assuntos relativo a outras. Certa vez alguém comentou que saiu de sua sala para ver o que estava acontecendo na sala ao lado. Essa prática parecia ser comum ali. A desunião era quase total.
A principal pessoa do colégio, (falando hierarquicamente, pois hierarquia era assunto importante ali)
disse certa vez a alguém: Ao dar aula deixe a porta da sala aberta! Ouvi várias críticas dirigidas diretamente a mim, outras, dirigidas a outras pessoas. Não que eu não goste de receber críticas, na verdade não gosto mesmo, mas costumo saber quando mereço e quando não. Além disso eu sabia que a experiência viria com o tempo. Pena que eles pareciam não saber.
Há uma expressão que é muito usada no meio dos professores; "Domínio de sala". Metaforicamente essa estranha expressão, quer dizer "domínio sobre os alunos. Oh! Deus será que eu matei essa aula? Havia uma disciplina de metodologia para dominar os alunos? Algum professor doutor já escreveu sobre domínio de seres humanos? Efetivamente teve sucesso? Se você que está lendo é professor(a), talvez você esteja pensando; "mas os alunos de hoje em dia parecem seres que precisam ser dominados..." Ah! isso é uma outra história. É uma outra dificuldade que os professores encontram, mas essa parece ser um espinho eterno, e até hoje não conseguimos entender por que, mesmo agindo de modo a alcançar um resultado positivo, agradamos alguns e desagradamos a outros. Temos sucesso com uma "sala" e o insucesso na outra. Somos amados por uns e odiados por outros. É preciso descobrir uma forma para lidar com isso. Todavia, acredito não ser "dominando" nem "domando" ninguém.
As frases mais comuns de alguns professores em relação a outros são: "Esse professor(a) precisa se atualizar", "Essa professora precisa se aposentar", "Esse tem (ou não tem) domínio de sala", "Nossa! como tem pss nessa escola", "Pss não tem compromisso com a escola", Aliás, esqueci-me de dizer; pss não pode ter opinião. Se falar acontece uma dessas duas coisas; ou ninguém escuta ou discordam na mesma hora de suas opiniões. (A propósito, pss são os professores contratados em regime de processo seletivo simplificado, trabalhadores substitutos temporários)
A frase mais comum de algumas pedagogas em relação a professores é: "Essa sala só faz bagunça com você", "Só na sua aula que é assim", mas depois você descobre que tantos outros já ouviram isso.
Não quero, nem posso generalizar, por causa das pessoas boas e competentes que há nesse meio, por isso tomei o cuidado de dizer sempre, "alguns", "nem todos"...
Para terminar minhas toscas reflexões sobre a difícil vida de professor , quero deixar aqui o texto de SAMIR CURI MESERANI, que traduz fielmente a vida do professor brasileiro.
Assim ele diz:
Viver é ter que preparar aula correndo, não encontrar o livro desejado, sair de casa às pressas, dirigir o carro com uma perua Kombi bem na nossa frente, ficar rodando em volta do prédio da escola à procura de um lugar para estacionar, entrar na aula ofegante e perguntar: "Onde foi que nós paramos na última aula?" e ver que ninguém sabe.
Viver é ter que ir a mais uma reunião da escola na segunda-feira, sabendo que não vai ser decidida coisa nenhuma. Viver é ir correndo ao banco no fima das aulas da manhã, desfilar fila por fila em frente ao guichê para pagar a conta da luz, da água, do gás, do telefone, o aluguel, o condomínio, o carnê da prestação, o IPTU, o IR, o ISS, a licença do carro 1978, o plano privado de saúde... perdendo horas e horas que nos são roubadas pelo sistema financeiro nacional.
Viver é ter guardada em casa uma lista de livros que um dia a gente acha que vai ter tempo de ler.
Viver é ter que ler mais uma proposta curricular feita por pessoas que parecem jamais ter entrado em uma sala de aula, uma proposta cheia de jargão acadêmico, com objetivos delirantes e abstratos e, ainda por cima, com aquele jeitão de ciência.
Viver é fazer força para passar aos alunos todos os valores nos quais fomos educados e que já começamos a colocar em dúvida,
Viver é ter que acordar cedo, tirar xerox, reconhecer firma, ir ao dentista, passar no supermercado, levar o aspirador de pó para o conserto, procurar um encanador, ajudar os filhos nas lições de casa, tentar renovar o cheque especial, dar aula, ir à assembléia dos professores e... de repente perceber que esqueceu o mais importante.
Viver é ter uma agenda e perder a agenda; é ter um guarda-chuva e perder o guarda-chuva; é ter paciência e começar a perder a paciência por qualquer coisa.
Viver é ter que corrigir trezentas provas, passar a nota para o diário, na esperanã de nunca mais ter que fazer isso. Até o mês que vem...
Viver é a ressaca de repor aula depois da greve.
Mas, apesar dos pesares, viver é o gosto de dar aulas, de preferência quando poucas, interessantes e bem pagas.
MESERANI, Samir Curi "Vida de professor". in: Revista sala de aula, nº 37, out/89, p.4.