Quem sou eu

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Formada em língua Portuguesa e Inglesa e suas respectivas literaturas. Gosto de leitura e escrita, contudo, gosto muito mais de ler do que escrever (escrever, infelizmente me dá preguiça)mesmo assim sou ligada a leitura e por consequência tenho que estar ligada a escrita. Ás vezes sou eu mesma e as vezes sou todos os que me cercam,com todas as alegrias e tristezas,obscuridades e clarezas.

domingo, 26 de junho de 2011

Neoplasia maligna

(Esse texto foi escrito por ocasião da minha ida ( de õnibus) ao hospital metropolitano em Sarandi para acompanhar uma paciente recém operada do intestino. Lá, passei duas noites observando pessoas refletirem sobre a vida, curtindo suas dores no corpo e na alma.)

          Um dia desses, caminhei alguns passos e entrei num "caixote amarelo andante", que faz a linha Mandaguari - Maringá.  É também conhecido como "cipó", devido ao fato de carregar mais pessoas em pé do que sentadas, e as que vão em pé, vão penduradas como o Tarzan na selva.
         Selva é um outro sinônimo para "caixote amarelo e cipó", devido ao fato de a maior parte das pessoas que ali andam serem tão bravas chegando quase a ser ferozes como os bichinhos da selva.
         Um dia desses me deparei com uma feroz onça de pelos compridos, que me atacou por que queria a janela do meu lado fechada, e eu a queria aberta. Não sei se onças tem TPM, ou se vivem os trinta dias do mês nervosas. Não importa, fui atacada por uma dessas que pensam que são donas do mundo (ou devo dizer, da selva). Mas fui protegida por animaizinhos calmos e serenos que amam a justiça, pois, nem todos que passam por essa selva são selvagens.

          Quando cheguei ao meu destino dirigi-me a uma grande construção com três recepções, era um repouso de enfermos, onde eu ficaria como acompanhante de uma paciente com suspeita de neoplasia maligna (câncer). Eu havia acabado de passar de um ambiente selvagem, com pessoas esquecidas do que verdadeiramente são, para um ambiente onde a mansidão lhes era imposta por suas doenças.
          Estive ali observando, analisando esses pobres e frágeis seres, que quando estão ali naquele lugar se dão conta de que tudo que somos num breve segundo se reduz a nada, o 'nada' mais insignificante de todos os 'nadas'. Pois, ali se vê pessoas deitadas em macas dependendo dos cuidados de outras pessoas que, ora cumprem seu papel, ora deixam de cumprir.    
         Há gemido de dores ecoando pelos longos corredores. Pessoas com marcas de acidentes sofrido nas estradas. Pessoas com feridas em suas  pernas e em seus corpos esperando por uma cirurgia que alivie, mesmo que a longo prazo a suas dores. A tristeza invadindo o rosto de pessoas que acabaram de descobrir suas desgraçadas doenças incuráveis ou se são curáveis, na maioria das vezes, depende de um tempo e um esforço capazes de purificá-los de qualquer mal que tenham cometido. 
        Ali as noites são longas e o sono bate na porta, mas não entra. É que precisamos do sono e do cansaço estampado no rosto continuamente, por que com a tristeza do rosto o coração se faz melhor, pois, ali é também um lugar de purificação.
        Mas felizmente chega o dia e percebemos que tudo parece pior a noite, o dia, às vezes, promete melhoras.
        E para quem repousou com os enfermos, o lado de fora do hospital parece até bonito, embora só se vê casas, comércios e carros nas ruas. O ar parece até leve, mesmo com a poluição. É que foi preciso estar lá dentro para perceber algo mais aqui fora.                                                                                           
        A vida com saúde é o melhor que podemos pedir a Deus. A educação e a tolerância é uma obrigação que temos que cumprir. A mansidão... não esperemos que ela seja imposta por uma fatalidade qualquer. O mundo está cheio de pessoas bravas, ferozes... A ferocidade é a neoplasia maligna do mundo. E por causa disso o mundo, às vezes, parece uma selva.      
         

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Algumas dificuldades que os professores recém-formados encontram ( Uma visão chula e tosca, porém, verdadeira)

      Sempre achei que os professores eram as pessoas mais inteligentes e educadas do mundo, que eram capazes de falar sobre qualquer assunto, entender qualquer coisa e qualquer pessoa. Sempre observei o fato de a maior parte das professoras que tive não serem casadas, e pensava: Ela é um ser admirável, preferiu dedicar-se aos estudos, exercitar sua inteligência e tornar-se uma "pessoa importante" (Apesar de ter sido educada para achar que uma mulher deve se casar e que as donas de casa são também, muito importantes). Esse era o pensamento de uma adolescente que não pensava direito??? Por que eu pensava assim? Por que todos os professores eram muito bons? claro que não. Alguns eram bons. Nem todos eram o exemplo que eu queria seguir. Talvez eu pensasse assim por que sempre tive o dom de extrair o melhor das pessoas. E também por que sempre soube que o magistério (depois da medicina) é a profissão mais importante do mundo. Age diretamente na formação do ser humano, por isso é muito importante. Isso não se pode negar.
          Seja como for, reconheço que se eu não tivesse passado por eles, hoje eu não saberia ler nem escrever. A professora do primário (hoje ensino fundamental)   proporcionou momentos fantásticos com a leitura de Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e outros escritores infantis que continuo achando fantásticos. Os professores da faculdade, verdadeiros mestres e doutores do ensino e da arte de fazer-nos buscar o conhecimento.

          Contudo, essas reflexões são para expressar minha decepção. Não pelo fato de agora saber que não existe uma classe mais inteligente do que outra. Isso é louvável. Mas pelo fato de agora saber que nem todos os educadores são pessoas educadas, nem são capazes de entender ou falar sobre qualquer assunto ou pessoa de forma verdadeiramente analítica. E têm suas opiniões de acordo com o que estão sentindo e não de acordo com o que é de fato. Desculpem se pareço rude ou sem postura, tanto quanto essas pessoas de quem eu me lembro.
        
         Para quem acha que é exagero, contarei um pouco da trajetória que me levou a ter essa opinião. Antes quero falar da minha formação. No ano de 2005, Formei-me em Letras pela Fafijan (faculdade de filosofia, ciências e letras de jandaia do sul PR). Em 2006 segui fazendo pós graduação nessa mesma instituição, onde aproveitei ao máximo e aprendi bastante. Tive professores ótimos, gostaria de citar alguns: Silvia Helena Mori Farias de Moraes Basílio, o nome dela parece uma oração subordinada substantiva hehe, todavia, ela é fantástica. Leciona no instituto de línguas na UEM e também na Fafijan. Ela é um exemplo de ser humano e profissional a ser seguido. João Bento Goes, ( psicologia da educação) aposentado pela UEM e ótimo professor da FAFIJAN. Neil e Margarida, (Português e literatura brasileira) CESUMAR e FAFIJAN, ótimos professores.  Rosi Campos, orientou-me com carinho no meu artigo sobre a poesia no livro didático. É uma pessoa muito competente. Alex e Eliete (Literatura brasileira e Produção de texto) muito bons. Neusa Ciciliato (UEL) e Juliano desiderato (UEM) Renilson Menegassi (UEM). Me desculpem se não menciono todos os outros tão bons quanto esses que encontrei na graduação e pós-graduação. Mencionei alguns apenas por causa daqueles que valorizam somente quem formou-se em Universidades públicas. A esses quero dizer: Os mestres foram os mesmos. E eles não ensinaram menos por que estavam numa instituição privada. Nunca tive a opinião de que a instituição faz a pessoa. Formei-me em uma faculdade particular e se eu quiser posso ser melhor do que alguém que formou-se em uma pública, basta apenas eu querer. Desafie, e qualquer um pode provar isso a você. Não digo isso por presunção, mas por que realmente acredito. Não subestimo ninguém.
          Enquanto fazia especialização na Fafijan, fiz prova para entrar como aluno irregular de mestrado na UEM e consegui entrar na disciplina de gramática funcional. Ao mesmo tempo ofereceram-me trinta e uma aulas em um colégio próximo a minha casa e aceitei. Eu fazia também curso de Inglês na Fisk. Minha vida de repente tornou-se um tumulto. Recém-formada, com todos esses compromissos. E além disso sou esposa, dona de casa e mãe.

         Logo que me inseri no meio dessa classe de profissionais, veio a decepção. Nem todos  falavam a mesma língua, nem todos queriam isso. Falavam mal uns dos outros, como se fossem inimigos. Alguns deles ouviam atrás das portas e comentavam com outras pessoas assuntos relativo a outras. Certa vez alguém comentou que saiu de sua sala para ver o que estava acontecendo na sala ao lado. Essa prática parecia ser comum ali. A desunião era quase total.
        A principal pessoa do colégio, (falando hierarquicamente, pois hierarquia era assunto importante ali)
disse certa vez a alguém: Ao dar aula deixe a porta da sala aberta! Ouvi várias críticas dirigidas diretamente a mim, outras, dirigidas a outras pessoas. Não que eu não goste de receber críticas, na verdade não gosto mesmo, mas costumo saber quando mereço e quando não. Além disso eu sabia que a experiência viria com o tempo. Pena que eles pareciam não saber.
 
      Há uma expressão que é muito usada no meio dos professores; "Domínio de sala".  Metaforicamente essa estranha expressão, quer dizer "domínio sobre os alunos. Oh! Deus será que eu matei essa aula? Havia uma disciplina de metodologia para dominar os alunos? Algum professor doutor já escreveu sobre domínio de seres humanos? Efetivamente teve sucesso? Se você que está lendo é professor(a), talvez você esteja pensando; "mas os alunos de hoje em dia parecem seres que precisam ser dominados..." Ah! isso é uma outra história. É uma outra dificuldade que os professores encontram, mas essa parece ser um espinho eterno, e até hoje não conseguimos entender por que, mesmo agindo de modo a alcançar um resultado positivo, agradamos alguns e desagradamos a outros. Temos sucesso com uma "sala" e o insucesso na outra. Somos amados por uns e odiados por outros. É preciso descobrir uma forma para lidar com isso. Todavia, acredito não ser "dominando" nem "domando" ninguém.

         As frases mais comuns de alguns professores em relação a outros são: "Esse professor(a) precisa se atualizar", "Essa professora precisa se aposentar", "Esse tem (ou não tem) domínio de sala", "Nossa! como tem pss nessa escola", "Pss não tem compromisso com a escola",  Aliás, esqueci-me de dizer; pss não pode ter opinião. Se falar acontece uma dessas duas coisas; ou ninguém escuta ou discordam na mesma hora de suas opiniões. (A propósito, pss são os professores contratados em regime de processo seletivo simplificado, trabalhadores substitutos temporários)
        A frase mais comum de algumas pedagogas em relação a professores é: "Essa sala só faz bagunça com você", "Só na sua aula que é assim", mas depois você descobre que tantos outros já ouviram isso.

         Não quero, nem posso generalizar, por causa das pessoas boas e competentes que há nesse meio, por isso tomei o cuidado de dizer sempre, "alguns", "nem todos"...

       
          Para terminar minhas toscas reflexões sobre a difícil vida de professor , quero deixar aqui o texto de SAMIR CURI MESERANI, que traduz fielmente a vida do professor brasileiro.

Assim ele diz:

Viver é ter que preparar aula correndo, não encontrar o livro desejado, sair de casa às pressas, dirigir o carro com uma perua Kombi bem na nossa frente, ficar rodando em volta do prédio da escola à procura de um lugar para estacionar, entrar na aula ofegante e perguntar: "Onde foi que nós paramos na última aula?" e ver que ninguém sabe.

Viver é ter que ir a mais uma reunião da escola na segunda-feira, sabendo que não vai ser decidida coisa nenhuma. Viver é ir correndo ao banco no fima das aulas da manhã, desfilar fila por fila em frente ao guichê para pagar a conta da luz, da água, do gás, do telefone, o aluguel, o condomínio, o carnê da prestação, o IPTU, o IR, o ISS, a licença do carro 1978, o plano privado de saúde... perdendo horas e horas que nos são roubadas pelo sistema financeiro nacional.

Viver é ter guardada em casa uma lista de livros que um dia a gente acha que vai ter tempo de ler.

Viver é ter que ler mais uma proposta curricular feita por pessoas que parecem jamais ter entrado em uma sala de aula, uma proposta cheia de jargão acadêmico, com objetivos delirantes e abstratos e, ainda por cima, com aquele jeitão de ciência.

Viver é fazer força para passar aos alunos todos os valores nos quais fomos educados e que já começamos a colocar em dúvida,

Viver é ter que acordar cedo, tirar xerox, reconhecer firma, ir ao dentista, passar no supermercado, levar o aspirador de pó para o conserto, procurar um encanador, ajudar os filhos nas lições de casa, tentar renovar o cheque especial, dar aula, ir à assembléia dos professores e... de repente perceber que esqueceu o mais importante.

Viver é ter uma agenda e perder a agenda; é ter um guarda-chuva e perder o guarda-chuva; é ter paciência e começar a perder a paciência por qualquer coisa.

Viver é ter que corrigir trezentas provas, passar a nota para o diário, na esperanã de nunca mais ter que fazer isso. Até o mês que vem...

Viver é a ressaca de repor aula depois da greve.

Mas, apesar dos pesares, viver é o gosto de dar aulas, de preferência quando poucas, interessantes e bem pagas.

 MESERANI, Samir Curi "Vida de professor". in: Revista sala de aula, nº 37, out/89, p.4.









sábado, 9 de abril de 2011

Onírico

            As árvores eram enormes, havia muitas árvores e todas eram imensas. Elas tombavam em todas as direções, de modo que não havia como prosseguir nem voltar. De repente! ufa, que alívio! era apenas um sonho.
           Nos últimos tempos ela havia sonhado noites seguidas com esse tipo de evento. Árvores que caíam sobre a sua cabeça, caminhos em que caminhava sem sair do lugar, rios imensos e mares que lhe davam medo, porém tinha que atravessar etc.
           Desde que fora vítima de si mesmo, tomando dose sextupla, ou nem sabe o quanto de um tarja preta prescrito por causa de sua depressão de luto. O fato é que não era só o luto. O mundo caía sobre si e os dias não eram mais cinza, eram grafite e logo ficariam negros.
           Ela queria apenas dormir, dormir... "Do fundo do meu coração" ela dissera; "era dormir, não era morrer".
           Era patético tanta fraqueza, contudo, ela estava na condição de um ser humano fraco, desprezível, sucumbido. Era como ela sentia-se toda vez que lembrava-se da tarde daquela terça feira em que tomou vários tranquilizantes, depois de uma manhã carregada de decepções. Segundos após esse ato insano, suas pernas estavam pesadas e as vistas turvas. Com muito sacrifício conseguiu ir para sua cama deitar-se e em poucos segundos mergulhou na inconsciência e assim ficou por muitas horas.
         Durante o coma, havia vez por outra um resquício de lucidez e num desses momentos levantou-se e segurando nas paredes, dirigiu-se ao banheiro, com muito esforço ligou o chuveiro para tomar banho, mas não tinha condições para isso, todavia, lembrava-se de ter ficado embaixo do chuveiro.
         Ao sair do banheiro segurando-se nas paredes, caiu no corredor, tentava levantar-se mas não podia, havia muita vontade, entretanto, não havia força. Era como se em algum lugar do seu subconsciente ela soubesse que se mergulhasse outra vez na escuridão, não voltaria mais. Ela lutava para manter um resquício mais de lucidez mas foi em vão e mergulhou outra vez no escuro.
         Não sei se ela acredita, mas Deus a queria viva. Então, algo bom deveria acontecer ainda. Assim, quando acordou descobriu que havia ficado neste estado por vinte e quatro horas aproximadamente.
         Nada mais grave aconteceu. Ela é linda, a "bela adormecida" que , enfim, acordou. E continua com sua meiguice sedutora. Sua inteligência não foi afetada. È a pessoa mais normal que eu conheço e Deus está na sua vida. Digo isso por que segundo o médico com quem conversei, nos casos em que a superdosagem desse remédio não leva a morte, deixa com problemas neurológicos sérios, em estado vegetativo, em coma, em cadeira de rodas etc... 
          Mas, como eu disse: Ela acordou. E acordou mesmo. Acordou de todas as formas que alguém pode acordar.    
        

terça-feira, 5 de abril de 2011

"Como um Cordeiro foi levado ao matadouro." (Isaías 53 vers.7)

         Só para lembrar, no ano de 2004 houve a campnha do desarmamento dando um prazo à população portadora de arma sem registro para a regularização de registro ou porte perante a Polícia Federal ou entrega voluntária das armas de fogo.
         A campanha tinha por meta recolher 80 mil armas, houve ampliação dessa meta para 200 mil até dezembro de 2004. Esse objetivo foi superado e o Governo Federal estendeu a campanha do desarmamento até 23 de outubro de 2005, data do "referendo" onde a população deveria responder "sim" ou "não" para a comercialização de armas de fogo ou munição.
         A campanha teve como resultado o "não". (informações veiculadas na Wikipedia)

       
         Em um momento de reflexão veio à memória o sucesso da campanha do desarmamento e junto com ela um episódio decifrado ingenuamente algum tempo depois.

        Se me permitem fazer algumas perguntas! Permitam-se responder e quisera Deus que suas respostas sejam confortantes. Conhece bem teus amigos? Confia?  Sabe quem é a pessoa que senta na tua mesa e dorme do teu lado? Não, não sabe. Quisera eu tivesse podido saber. Por isso cuidado quando a noite cair e as pessoas mudarem de comportamento ou o vento soprar e trazer maus presságios e não soprar a seu favor. Cuidado se decepcionar alguém, se não corresponder as suas expectativas. Isso pode ser motivo para ela querer a sua carne.
     Havia um amigo, era como um irmão, era a melhor pessoa que eu conhecera.  Muitas pessoas não    acreditam haver mais amizades assim, só as crianças são tão puras e verdadeiras. Mas nessa amizade havia pureza e sinceridade. Desculpe se a pieguice toma conta das minhas palavras, não sei ser pura sem serbrega. Meu amigo compactuava com essa pieguice toda.
         Mas nos melhores relacionamentos há discussão, há discordância, há desencontros. E num desencontro desses, em seu coração que estava sempre aberto para mim, entrou um sentimento estranho, (por causa de um desencontro...) o ódio, o que é o ódio? dê-me uma definição de ódio. Porque eu não sei, nunca senti, acredito que seja isso por causa da forma como meu amigo agiu. Ele dizia não poder conforma-se com esse tal "desencontro" estava a beira da loucura, a ponto de morrer, ele iria cometer suicídio. E convidou-me para uma última conversa em sua casa. Fui correndo à casa, pois tinha que evitar uma tragédia...
        Não tinha ninguém mais em sua casa, e logo que cheguei, ele trancou a porta. Gostei disso, pois assim eu teria mais liberdade para convencê-lo a não cometer nenhuma loucura.
        Havia em cima da mesa, uma espingarda de dois canos, longa, calibre 20. Hoje penso...como pode alguém se matar com uma arma daquelas, visto que, devido ao seu tamanho não tem como mirá-la em seu próprio peito. Eu era muito ingênua para saber que o alvo era eu.
        Enquanto ele mirava em mim parecia querer achar o ponto certo, talvez no coração, ou na cabeça. Eu oscilava entre a dúvida e a certeza, entre a mira da arma e o súbito desespero. Meus olhos fecharam-se para não ver o que estava acontecendo ali. Então eu tentava aproximar-me dele num sentido contrário a arma. Talvez para impedi-lo de achar o ponto certo. Ficamos andando em volta da mesa por alguns segundos, um atrás do outro, eu atrás dele tentando de algum modo esconder-me do tiro que estava prestes a sair.
        Limitei-me a dizer, "pare com essa brincadeira, Deus tem muito a fazer na sua vida, não a jogue fora!".
Não sei se isso tocou seu coração fazendo-o refletir. Sei apenas que, estranhamente, destrancou a porta e mandou-me sair.
        Mais tarde eu soube que fui convidada para o "matadouro" e fui de livre e espontânea vontade.